Carta amiga na véspera de Natal

Suas influências sobre mim se tornam cada vez mais evidentes. E eu detesto admitir, porque sempre detestei ter que te dar razão.

Ontem, no almoço na casa da Mari, tinha uma rodinha de violão. E eu, hoje, odeio rodinhas de violão. Um cara muito bacana que acabara de conhecer virou meu melhor amigo por conta dessa identificação imediata: nós dois estávamos odiando a rodinha de violão. Quando aquele coro de desafinos entoou Oceano, tive calafrios. E me lembrei de você.

À noite, fui naquela festa que combinamos, da qual você desistiu em cima da hora. Ainda fez questão de dizer que sou uma grande furona e que, portanto, eu não tinha direito a reclamações. Por essas e mais tantas te acho irritante.

Azar. Eu, se fosse você, lamentaria por perder a oportunidade de me ver berrando a letra de Bandages, do Hot Hot Heat.

Teve uma hora lá que um gringo perguntou se eu falava inglês e, com a resposta afirmativa, ficou berrando frases de contentamento por ter encontrado quem o compreendesse ali, no barulho daquela festa bêbada, esquisita e feliz.

O cara era interessante. Altão, estilo na medida, sem ser over. Eu já havia reparado, no meio de tanta gente, ele dançando sozinho. Mas você sabe do meu preconceito com gringos, né? Não é por nada, já te expliquei: odeio esse imaginário masculino internacional com relação à mulher brasileira. Odeio servir de personificação do pitoresco.

Ficamos conversando a noite inteira. Em vários momentos, pensei em uma de suas insistentes advertências: meu preconceito ainda me impediria de conhecer muita gente interessante. Mais uma vez, eu lembrei de você.

Ele tem 30 anos e estudou filosofia. Disse que eu era inteligente e tinha um ar esnobe. Você sabe que, nesses papos desconhecidos, eu sempre poso de intelectual e blasé. Pelo visto, colou. Hoje, me sinto uma farsa com padrão internacional. E, mais do que nunca, lembro de você.

Feliz Natal, amiga. Te amo.

11 comentários sobre “Carta amiga na véspera de Natal

  1. Ei…. vc tá falando de mim nesse texto aí… cadê a grana do meu direito de imagem??? ehhehehee

    Viva a identificação imediata e abaixo as rodinhas de violão!!!

    Gi.. adorei te conhecer… acho que já te falei isso ums 237218942 vezes, né?

    bjinhos
    Lu

  2. Lu, é claro que é de você!
    Bota na conta o direito autoral! Isso vai dar alguns chopes.
    Sim, viva a identificação imediata e abaixo as rodinhas de violão!
    Beijo grande!

  3. Peraí! O interlúdio pe meu! que bagunça é essa?

    Brincadeira Lu. Junte-se ao movimento contra as rodinhas de violão – e batedores de palminhas.

    😛

    Déia

  4. Déia…. não quero tirar o crédito de ninguém… o interlúdio é todo seu… eu posso fazer um postlúdio 😛

    e realmente, ainda não cheguei nessa dos batedores de palmas… mas eu assino embaixo de qq coisa que a Gi falar….

    só uma dúvida… dá pra sentir saudades de uma pessoa que só se viu uma vez na vida??? pois é…

    bjinhos
    Lu

  5. Como sou contrário às unanimidades – e, é claro, porque toco um pouquinho de violão – quero partir em defesa do coro de desafinados.
    O que houve com você, que era a fã número um de eventos do tipo?? que se empolgava fazendo a segunda voz de Andanças – “…me leva amor…” – e sempre pedia “-Toca Andrea Doria!”???
    eu até aprendi Andrea Doria pra um dia tocar pra você…rsrsrs

    Beijos, Gigia!

  6. Isso é realidade dinâmica, meu querido. rs
    Vê se você toca agora, em minha homenagem, “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.
    Beijos

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